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1 de setembro de 2006

O anel

Ele lhe olhou. No estopim de seu gabinete de trabalho, não como um trabalhador convencional que engole sapos em prol da própria sutileza e elegância e discrição e reputação, abordou-a:
-Olá, eu trabalho com artes instantâneas; você gosta de estrelas?
(senhoritazinha) -Adoro estrelas.
-Caso eu fizesse uma estrela decalcada em um anel você a aceitaria e contribuiria com dois reais?
(senhoritazinha) -Pode fazer sim. Contribuo sim.
Num feixe inimaginável (de tão fugaz) de tempo, o rapaz fez-lhe um anel. Delicado e pálido e fininho como as mãos de Lina. Ao abocanhar um minúsculo entendimento entre o artista e a garota, deu para se saber o nome dela: Lina. Ficaram por algumas pequenas ampolas de tempo a conversar:
(Artista): -Como é seu nome?
(Lina): -Lina, prazer.
(Artista): -Você faz o quê?
(Lina): - Bom, sou uma escritora ainda mal sucedida, mas tenho mais de duzentos textos e pretendo reuni-los em um livro e publicá-los.
(Artista): -Como é seu sobrenome?
(Lina): -Pafé.
(Artista): -Muito bom; quem sabe amanhã de manhã eu adquira um livro seu.
Agudez de entusiasmo. Ambos os orgânicos se regozijavam perante a adrenalina de viverem enclausurados em um Amor possante e genuíno e ao mesmo tempo hesitante: o Amor pela arte que se opta por fazer.
Ambos tinham uma coincidência enorme e esparramavam essa interseção através das mãos. Porém, enquanto um embalava suas destrezas em síntese de céus e de flores e de tudo que pode ser perceptível à estirpe humana, Lina ousava falar o desconhecido; inventar a inimaginável certeza. A garota artista era mais pretensiosa que o rapaz artista. Mas, o gozo disso tudo se conclui em ter a ciência de que a Arte é um flexível processo que flui conforme a intempérie e a bonança dos Tempos de consciência humana.

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