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26 de setembro de 2006

Rato de Laboratório

Todos os anexos vitais foram pensados a partir do Amor. Ah! O Amor. Parece tão bonito. Parece desfilar as estéticas mais perfeitas dos sentimentos. O Amor é tão promissor. Seus novos tempos ficam estagnados na esperança. Ah! O Amor. À medida que se destrincha às consciências, dá a entender que é um componente imprescindível à conotação que emana do caos.
O Amor é o estopim do egoísmo. Quer-se o outro decalcado nas arcadas. Deseja-se salivar o outro. Ama-se o efeito que o outro desencadeia na própria linfa. Caso o efeito seja colocado em risco, imediatamente, descontrole. Não há pitadas de altruísmo em amor de casal. É estranho notar a capacidade outorgada de amar-se; amar-se com demasia.
Cobiço-o em seções. Há ares oriundos dele que me repelem. Amar é animar-se a um esporte radical e, na hora do salto, falhar. A Cohab que é construída prospera. As imediações se entrosam facilmente. Tudo é lindo e pleno nas dependências do camarim de minhas fantasias.
Quando transporto minhas fragrâncias à realidade: insipidez.
Perscruto os casais que andam pelas ruas, que saem para dançar, que vão a restaurantes. Provavelmente, pelo “nós” inconsistente, demandam um terceiro pretexto para que os encontros sejam tesouros: eu, você e muita gente dançando; eu, você e o telão de um cinema; eu, você e um rodízio de pizza; eu, você e um casal de amigos.
Adoraria me intrometer em uma relação budista, em que o silêncio culmina em safras e safras de um frenesi qualquer. O silêncio é sábio. Assuntos que dinamizam a inércia inerente ao mundo me repelem. Refiro-me à escassez de poesia. Refiro-me a plágios irretocáveis da realidade bruta de vulgaridades, de anomalias, de ocasiões, de tudo que se torna previsível e nocivo.
Enveredei – inevitavelmente – ao amor às artes.

Um comentário:

Anônimo disse...

Carol, é muito bom ver sua profícua produtividade, e também sua capacidade de tratar assuntos tão ácidos. O texto é muito bom e como todo texto genial, traz um claro traço pessoal. Como já disse mil vezes, estpero sempre ver seus textos e pensar sobre eles, que tem tantos aspectos como quem os escreve. Parabéns!!!