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11 de maio de 2007

Morte morrida, morte por auto-sugestão

Às criaturas mais comuns, morrer de morte morrida sucumbiu ao trânsito da obviedade. Obviedade esta que, equivocadamente, existe na Natureza toda. A árvore é óbvia, o pássaro restringe todo seu discurso naquela estampa e na destreza de voar e cantar, as frutas são todas óbvias. As genitálias são óbvias. Os excrementos são óbvios. A Terra passa por uma crise de preguiça mental... Terceirizam os pensamentos a todo instante: no jornal, vendem-se monografias, precinho especial neste meio de ano.
Presunçosamente, digo que a morte morrida não culmina em grandes repercussões, porque ela ocorre em série. As coisas que acontecem assim, de praxe, tendem ao clichê, ao costume comum.
Entretanto, àqueles mais curiosos, mais atentos ao verbo da existência, morrer não é tão simples quanto disponibilizar uma fruta que se catou em um pé e destiná-la à capacidade de o sentido sentir. Morrer é o mistério vital, morrer é talvez a ignorância da condição das coisas antes de serem vida. Quem morre sempre é elevado a patamares heróicos. Os mortos sabem, afinal, de uma verdade que nos é hipótese ou que sequer cogitamos.
Pensemos na morte! Na morte morrida, que, em tanto momento, corresponde a uma folha que se quedou, mas ninguém a avistou. Respeitemos todas as criaturas que não resistiram antes de nós. Elas têm segredos divinos, preste atenção!
Agora, existem mortes que equivalem ao estopim de um desespero, de uma caverna toda embaçada, impregnada de agonias. Alguns, perante essa situação, apelam a sessões imensuráveis em um analista; outros, mais radicalmente, matam-se. Já existem manuais de sugestões e até apologias ao suicídio. A ciência pode ser seu próprio assassino, a tecnologia, os mares, as alturas em sociedade com a gravidade. Jovens se matam em devoção a um amor unilateral. Jovens se matam porque têm medo de se meter na vida e lhe ser rejeitado. Adultos se matam por causa da solidão. Matam-se por conta de frustrações-metástases.
O suicídio, em geometrias mais extravagantes que as mortes convencionais (ele fez o óbito!), promove efeito genérico entre as pessoas. Espanto, perplexidade. Equipamento de coragem, desafio em terras gringas. Parece que a vida é inviolável e, no entanto, há os ousados, destemidos que transgridem a emanação cósmica por um ato covarde, desesperador.
A sociedade eleva-se a uma reflexão em uníssono. Calam-se-lhe os assuntos, extirpam-se os compromissos. O mistério do Fim vem ao nosso encontro, fatalmente. É assustador irmos ao encontro do fim, em uma peregrinação voluntária. Pré-disposição à morte. Ou à vida. A uma outra cultura vital.

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