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15 de maio de 2007

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Todos os dias, Lísia passa por uma guarita, que faz parte do percurso rumo à casa dela. Lá dentro, na hora em que ela passa, sempre fica um homenzinho. O homenzinho. O mesmo, cujo nome ela desconhece. Apenas o saúda:
- Boa noite, moço, tudo bom? (BIS)
- Boa noite, menina. (BIS)
Já automatizou. Não existe expectativa de ele falar algo além de “boa noite, menina” e nem de ela se delongar nas cordialidades. É apenas um ato démodé aos parâmetros deste mundo Pós - Mega – Ultra – Moderninho. É apenas a manutenção da educação.
- Boa noite, moço, tudo bom?
- Boa noite, menina.
O dia fluía, conforme “O Show de Truman”. Maritacas insones acordaram a garota, o vizinho, bem cedo, com moto serra à mão. O céu inerte. Pela fresta da porta, Lísia ouvia a empregada pinçando recados ao telefone. Vendedor de gás batendo à porta. Coragem com exército próspero: levantou-se. O dia se iniciou...
À noite, já imune à necessidade de se pensar para agir, saudou o vigia:
- Boa noite, moço, tudo bom?
- Boa noite, moça.
Acendeu-se o quartinho da novidade. Tudo lhe estava tão óbvio. Como a tendência da humanidade de se adaptar à tirania de ser humanidade. Aquele moça lhe reverberou imediatamente: quer dizer que fui promovida à moça? MENSTRUEI! Ela riu de si, de suas idéias - relâmpago. De suas divagações.

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