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29 de junho de 2007

Passeata

Insone, depressivo, desestimulado, cobiçando o próximo aniversário – este lhe era a melhor das expectativas, visto que iluminava a proximidade do fim – inclinou-se aos monstros do pensamento.
Pretendeu pensar aquilo que o deixasse confortável. O que o impulsionou no início foi pensar o bizarro. Elaborou uma cadeia de idéias que comungasse uma onda anti-convenção. A matemática é uma ficção infantil, pouco convincente. As ciências prescindem da grande filosofia que é a nossa não-sabedoria. As religião são presunçosas ao eleger aspecto ao intransponível. O pensamento tem fôlego curto porque está à mercê do limite das palavras e seus sentidos inerentes. As nossas transcendências todas estão impregnadas de tiques culturais. Como o ser humano é volúvel como a água; ele adapta-se praticamente a todas as tendências culturais.
A mulher pudica por devoção às tradições é a mulher vulgarizada por mostrar que também escolhe sua presa. A mulher das roupas impecáveis é a fêmea com chinelas anti-higiênicas que pisa o chão dos espaços públicos. As crianças que passam a fase integralmente na escola dialogam discursos breves, inconsistentes, nada questionadores, emperiquitados por palavras de baixo calão, de grande mau gosto. As pessoas estão falando tão alto. Os garçons são todos impessoais. A lida está mecanizada, enquanto o trabalho é o guia espiritual, o ceticismo do descrente.
O namoro é uma linda conversa dos pequenos lábios com o falo. E a amizade segrega tantos, tudo. A amizade é grande colaboradora de nichos impermeáveis. Os valores são contabilizados, inteligíveis, didáticos.
Quanta inverdade. Somos muito pouco desenvolvidos, enfim. As palavras arquivam grandes sentidos. E a gente insiste em se manifestar instrumentos herdados.

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