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30 de junho de 2007

Verônica

Sob um turismo psicodélico, voltou à sua adolescência incipiente. Verônica. Estava ao banho, numa suíte da antiga fazenda de seu avô paterno, homem riquíssimo, embora arraigado a costumes simplistas.
O busto começara a lhe despontar. As gramíneas da puberdade seguiam os mandamentos da Natureza. Uma necessidade de se entrosar com a lascívia, uma paixão não-assumida, a mudança do corte de cabelo, a vaidade, alguns pudores, alguns acnes. Um mal crônico: melancolia.
Delongou-se ao chuveiro. Perscrutou azulejo por azulejo, os detalhes do lavabo, a solidão daquelas acomodações, os vasinhos de flor espalhados pelo interior do banheiro, arranjo por arranjo, capricho, esmero. Pressupunha, a cada ambiente, uma empreitada de um sentimento qualquer; a sombra de uma individualidade selada pelo sofrimento.
O contato entre os mundos animado e inanimado lhe sugeria carência, o estopim de uma carência; um câncer. Talvez a Natureza integrada satisfizesse as desocupações inquietas, todavia com silêncio de convento, e inerentes ao homem.
A inércia hermeticamente fechada por um farelo da civilização induz a vida a movimentar-se. A interpretação por vezes é malfeita, e resolvem mexer-se em ambientes feitos à base de civilização: vão às ruas, às galerias comerciais, ao asfalto, aos clubes, às lanchonetes. O que os alivia é a velocidade de puma com que vão ao encontro do extraordinário. A carência fica esmagada em um cômodo de quinquilharias da entranha. Mais tarde, revela-se; assusta o hospedeiro.
O homem rejeita seus filhos artificiais. Existe um estranhamento entre a vida natural e a vida biônica. O homem é eterno gauche.

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