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13 de julho de 2006

Amor

A voz lhe fora bloqueada. Nascer com uma habilidade e perdê-la ao Acaso é sofrido. Golpes do Deus Onipresente. Um lindo sentimento reduzido a um tapete de palavras estava sendo digitado quando, num aperto trocado de botões, perdera tudo. Memória fraca. Reproduções do Original geralmente são falíveis. Sequer tentara repetir o que lhe fora embora.
A tônica, como a tônica de qualquer expressão sentimental de sua vida, era o Amor. O Amor lapidado pela razão afiada, inevitavelmente, era amor deturpado e desconfortável. Procurara desenvolver o auto–amor após uma marcante aula de geografia explanada por um professor troglodita que lhe dissera: amor– próprio é coisa de hermafrodita. Sempre tivera fascínio pela poética profissão de professor. Desvirginar mentes com sapiência era-lhe tão magnífico. Mas Agildo – este é o nome do mestre – sabotou inconscientemente um sentimento cândido de mocinha de 14 anos. Tatuagem de agulhas. A jovem tentou desenvolver, desde aquele momento, um amor-próprio que suprisse a carência de um amor altruísta. Suas próprias vaidades, que visavam ao rebolar de sentimentos alheios, inibiram-se ao ponto de beirar a morte católica. Acreditava que o amor próprio era o espectro do genuíno Amor. E o professor lhe diluiu o sentimento.
Amor egoísta epidêmico. Amor ao inanimado. Frigidez com o Amor de alma, com o amor das genitálias. Amor pianista, Amor artesanal. E alma que idealiza e se contenta com o utópico sentido de idealizar.

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