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14 de julho de 2006

Centro da cidade

Tapetes chiques sobrepostos à nudez vital. Taco insosso, chão antiestético. Vida. É importante emperiquitar-se e afofar-se para que não haja rejeições à própria pessoa. Que o enxerto prospere. Assim fizeram Nívea e Maria Antônia; esta mãe daquela.
Esperam a claridade do dia reservar-se; abster-se da obscenidade de fulgurantemente ser. À medida que o céu se acorcunda, elas se enfeitam, elas se tapeiam para ir à rua. Ao centro de Juiz de Fora. Minas pequena é tão tímida a ponto de se portar como cão vira-lata que nitidamente se constrange ao cruzar com um espectro vivo em certas avenidas, ruelas, passarelas.
As moças saem para comprar cancelas à potência prepotente da Natureza: cremes depilatórios, esmaltes, aperitivos... O Universo não se cansa da incumbência de detetive. Persegue-as, como se infiltra despudoradamente na vida da humanidade. Grande cutícula.
Sinais a indicar o momento de se atravessar as avenidas, euforia dos bichos humanos, crianças entediadas em colos que lhes são o melhor conforto, aglomeração em nesgas de calçadas a comportar toneladas de cardápios humanos maciços.
Entra e sai nos patrimônios comunistas. Alguns esboços da Existência. Centro da cidade. Mendigo, velho caído, novo rico, pretensões truncadas das juventudes. Saltos e artificialidades. Tende-se a se privar dos incrementos, porque, à medida que se chega à beira da goela da Vida, sente-se, possantemente, as mãos, as grandes mãos do despropósito.

2 comentários:

Anônimo disse...

Carol, este texto revela a nossa relação depurada. E a sua sensibilidade exacerbada, porém, discreta.
Sou sua fã desde sempre e sei que vai dar certo.

Mariana.

Anônimo disse...

Caramba, não sabia que escrevia assim tão bem! Ótimo texto.
;)