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13 de julho de 2006

Dentadurinhas

A Ditadura incumbe a massa, os sentidos da Vida. E afasta-se, sem remorsos, dos vitimados pela obrigatoriedade de ser. Ser, de repente, a plenitude de um céu puro, sem interferência de nuvens; ser, num grande susto, o lamaçal de tristezas sem remetentes a que ficamos submissos.
Ora em esteiras de martírios, ora em planícies tênues de felicidadezinhas, o Amor vigora. Vigora. Porque é a bússola-mor da condição humana. Às vezes extirpa integralmente, em uma única empreitada, os bons ares; e aí, estampa-se, instantaneamente, a necessidade de se abster do Real. É preciso editar a realidade com temperaturas artificiais, com tons mecânicos, com alucinações alopatas. Farmácia. Felicidade postiça: dentadurinha. Não há o sorriso oriundo do âmago e estendido na coreografia das arcadas. Existe um paliativo antinatural ao mal. Deuses alquimistas e farsantes que inibem as intempéries. Reprimem a dor dessentida.
Importar salvações demanda trabalho árduo... Chega-se à exaustão. De lá de dentro é preciso tirar as ampolas de venenos naturais. Mas os sentidos são iludidos pelas praticidades e, inevitavelmente, sucumbem às lápides humanas. Drogas. Ciência avançada. Tecnologia anti - monotonia. Excessos. Abrevia a vida. Aos poucos, perde-se uma fração do que é bom numa fajuta tentativa do Bem. E a morte se mostra viva gradativamente, com a chegada da transparência cósmica da Vida. Da lâmpada acesa inclusive nos momentos de ensaio da morte.

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