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28 de julho de 2006

Vida

TEXTO DO CONCURSO DO CAVE SOBRE O EINSTEIN

Minha vida: circunstâncias que, até então, foram incumbidas de sê-la. Eu era mero ser vivente que acompanhava o itinerário dos acontecimentos frígidos do dia-a-dia. Acho que sempre transcendi o Tempo sem perscrutar o que é ser. E agora, que tento dar uma sublinhada racional ao porquê da vida, dou as mãos à “dessabedoria” das coisas.
Um dia desses pensei na ditadura que me é inerente. Cheguei ao mundo sem manifestar palpites, na condição de vassalo de um tango infindável chamado ser humano. Ser humano é estar à mercê das manobras do tempo: tantas carecas em andamento, menarcas, menopausas, riso: vitrine das cócegas, unhas ultrapassando o limite do território que lhes fora dado.
O frio saiu dali, mas vive aqui em mim. Sou tão frágil; demando casaco e fico, por conta disso, distante desse incessante sexo com as vidas outorgadas dos ventos. Que ares estranhos esses que se embalam com a nudez dos “beira-mar” e que murcham ainda mais os velhinhos dos asilos.
O Mundo sempre foi o sindicato inquieto do meu âmago. Jamais enxerguei com meros olhos órgãos a mecânica dos céus, a aquarela clandestina das onças, o talhe das folhas. Desbotei a interrogação acerca do porquê de tudo. Quis saudar a fonte do castanho de tantos olhos que passaram por mim hoje; quis conhecer a matéria-prima que se esparrama com tanta singularidade em cada transeunte; quis o segredo da praticidade da aranha, o traquejo despudorado da maritaca.
Briguei com os espasmos das minhas pálpebras quando, com uma esponja eficaz, eles me isentaram do Mundo e abriram atalhos a pesadelos horríveis. Discordei da minha natureza em momentos de epidemia de idéias cancerígenas. Mas sou escravo. Sou a mísera consciência de tudo que me é.
Tanto fiz e tanto faço. Dedico-me a isto, àquilo. Sou atleta que extravasa a própria pressa. Bem sei que isso não é vida. Isto é uma grande tapeação dedicada ao tempo. Ao verdadeiro tempo. Ao tempo das versáteis modas dos céus. Eu poderia não sucumbir às demandas mundanas e dedicar-me à poesia de estar vivo.
Quando ponho em orquestra este pensamento meu, percebo fascínio em cernes alheios, mas eu não sou nem especialmente inteligente nem especialmente dotado. Sou apenas curioso, muito curioso.

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