Total de visualizações de página

8 de outubro de 2006

Estupidez

Tudo que exporta, inevitável e involuntariamente, desce-lhe ardendo pelo côncavo receptivo da alma. O inferno é o outro. O trabalho por que Tâmara optara ou fora despercebidamente induzida a fazê-lo demandava o instantâneo sentimento que se consolida perante a dinâmica dos atos vitais.
É domingo. Os céus, as flores, os ares, as roupas abobadas dos varais, as cirandas urbanas... Tudo parece uma plêiade entrosada. O silêncio. O silêncio é o maestro dessa reunião. A melancolia fica ao fundo, como coadjuvante de um dia que se repete no ínterim dos dias. Domingo.
Tristeza. Pilha de roupas propositadamente a lavar. Movimentos corporais que mexem com a sensação de Nada que existe na cabeça.
Lava as roupas. Os braços doem. A cabeça peregrina ao encontro da serenidade. Esta, intempestivamente, encontra-se com a melancólica musicalidade que envolve a Humanidade.
Fica o duo encostado em um feixe de consciência da mulher. Ela assenta-se à frente do computador. Coloca uma música clássica e, rapidamente, escancara as portas e as janelas de suas casas virtuais, que lhe promovem contatos, convívios, encontros de amores que moram bem longe. Primo do Pantanal. Está quieta e com os sentidos concentrados em plenitudes da música clássica e em escritos que importa de um sábio primo, pelo qual possui um sentimento enorme.
Percebe o vulto de sua irmã – Sarah – a transitar pelo lado de fora da saleta do computador:
- Sarah, venha ver as fotos do casamento.
- Ai, deixa-me ver. Devo ter ficado linda, né?!
No meio deste pequeno baralho, entra à conversa Augusto – irmão das meninas. Com uma grossura de praxe, diz à Tâmara:
- As fotos estão todas tremidas; isso porque você mexeu nas configurações da sua máquina.
Tâmara é muito sensível. As atitudes alheias sempre lhe batem e geram, de imediato, químicas e químicas. Às vezes, amargas, às vezes, plenas e salutares.
O irmão detém uma incomensurável quantidade de evoluções. No entanto, a tônica da deficiência humana – inseparável a qualquer um – bate-lhe em grossura.
A grossura é uma orquestra dissonante que enclausura por horas e horas uma platéia enorme e sofrida.

Nenhum comentário: