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8 de outubro de 2006

Lanternas

Quando, de supetão, atenta-se à ignorância, qualquer recinto, qualquer aura, qualquer circunstância, qualquer estirpe de comportamento podem desencadear-lhe interesse. A consciência e a edição das idéias portam-se serenamente. Os serenos têm o privilégio de sentirem a magnitude que emana de um artesanatozinho de Deus. Mas, são sempre objetos de atuação de cabresto de senhorita Melancolia.
Não importa. Sofridos, incumbidos, penitentes, os serenos – seja naturalmente, seja por vias ilícitas, seja por não sei o quê – têm probabilidades e probabilidades de utilizarem a proposta da razão lapidada da espécie humana.
A eletricidade exacerbada, que assola a maioria das gentes, sopra-lhes com tanta agudez que acaba por lhes espalhar as idéias sobrepostas a chãos, a paredes inaproveitáveis da essência.
A missa foi interessante à Heloisa. Missa soava-lhe como um fascismo ingênuo oriundo de seus pais – criaturas sociáveis e dóceis. Na verdade, ir a missas era ato de prestígio a alguém. Altruísmo purinho. Helô não alcançava este veredicto. O tédio corria rapidamente, ao cume do gráfico da irritabilidade. Desprezava o som que provinha da boca do celibatário. Ir a missas era-lhe um desrespeito à audição: eram dissonâncias e dissonâncias.
Nestes novos tempos, neste artifício avançado de tempos, de tudo se podem colher intenções. A oratória do padre da missa a que fora no sábado é de encantar, de anestesiar os empenhos burocratas e fazer florestas instantâneas em que o vegetal que mais prospera é a reflexão.
De volta a casa, por dentro do carro, vê um cãozinho corcunda a subir sozinho e sofrido em direção a outra área. O acordo dos sentidos, por momentos, fá-la sofrer com demasia. A partir das rações empurradas aos olhos, os sentimentos – despercebidamente informados do sabor – entram num processamento danoso ao corpo, ao cerne, à razão.
Então, a vida é isso mesmo.
O amor nada mais é do que as vãs tentativas de compensar as hipóteses levantadas pelo ego.

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