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27 de abril de 2005

Natureza Morta

Subitamente me sinto órfã. No ínterim desta minha existência estive, até então, à mercê do tempo, presa a pessoas que contemporizavam às chuvas, aos sóis, aos vendavais que terminavam em exageradas erosões. Agora, como um fruto já maduro que se despenca da acolhedora árvore, estou entregue à minha própria vigília. Como um quadro com cocos solitários, distantes de sua origem. Tudo se torna vassalo desse tempo genérico, unânime... e poucas vidas voltam-se a si. Voltar-se a si é fadar uma solidão árida; é menos perigoso acomodar-se às demandas da vida. Já viemos com a pretensão de outrem em relação a nosso âmago... de manipulá-lo, de encaminhá-lo a itinerários tão cansativos e que, no fim, nos levam ao retorno de tudo e ao recomeço de horas que ousam repetir-se. Horas que se vestem de acordo com a moda dos céus. Horas superficiais... horas estetas. E quando as horas parecem dissonantes em relação aos trajes do tempo, haja saliva! Fala-se... tem-se um balaio de assuntos. E, enquanto os olhos amadurecem em pés entregues ao Firmamento, eu insisto na inércia de ser espectador da própria existência.

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