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2 de abril de 2005

Poesia

Somos redemoinhos súbitos. Assaltos. Acordo com a elevação acústica dos vizinhos... e meus ouvidos agora são meu império. Maritacas com fuso horário diferente do meu também costumam me despertar. O coração, antes de mim, anuncia algo por que eu não estava esperando. Enfim, acordo de corpo inteiro... e como um início de carga-horária vão se acendendo em mim as mãos, o olfato, a audição, o tato, o paladar, a visão. E cada hora um desses é minha trilha. Se um carro passa com graúdos lá dentro, percebo vidinhas ainda recentes, ou então já impregnadas de erosões das horas. De longe colisões de gente e de coisas... meus ouvidos são mestres, percebem a dissonância do piano na hora de traduzir às teclas todo logaritmo de Bach. Minhas mãos vão antes de mim... sempre! Elas preparam aquele banho... dosam direitinho a minha afinidade com a água e fadam horas de tranqüilidade. Sou partes de mim. Nunca sou na íntegra. Sou redemoinhos que me são. E, de repente, preciso sair... porque meus ouvidos me alertam algo.

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