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16 de maio de 2006

Apêndice

ESTE TEXTO É UMA PEQUENA HOMENAGEM A UMA PESSOA DEMASIADAMENTE ESPECIAL A MINHA VIDA: RODS.

No primeiro dia de aula na faculdade de Jornalismo, os calouros receberam um trote (isto não é nenhuma surpresa; já foi cimentado e eleito estátua pelo vigente). Quem lhes passou o engano foi um rapaz do segundo período, todo empedernido, vaidoso e baforando um sentimento de “sou onipotente diante de vocês, seus embriões ignorantes do regime de uma Universidade”. Ele travestiu-se de professor severo e menosprezou com enorme aspereza cada indivíduo que estava ali temendo o novo, impregnado de expectativas.
O rapaz fez-se de popular, mas, na verdade, é um tanto quanto impermeável ao novo. Foram raras as vezes, por exemplo, que, ao cruzar com os novatos na faculdade, ele os cumprimentou. Ele transitava pelas dependências da escola como um militar que acredita que a seriedade e a severidade são as setas essenciais para se conduzir bem a vida.
Isso tudo se tornou pretexto para piada de Eduardo, Rodolfo e Carolina (amigos que se perceberam afins com uma quantidade de tempo muito pequena de entrosamento).
Ouviam-se comentários do tipo:
-Lá vem aquele antipático!
-Ao “sabe-tudo”.
-Esse menino nunca mais me cumprimentou; ele parecia-me tão amável, tão desprendido, descolado. Vai entender!
O ápice da chacota surgiu quando, num dia comum, como o ar a que o dia-a-dia fica submetido, Rodolfo – o fofoqueiro-mor, o humorista-mor explanou instantaneamente, sem muito contar com as marchas da razão:
-Quem é aquele apêndice?
O apêndice era um garoto cuja metragem não condiz muito bem com a espécie humana. E o “doutor-onipotente” que nos passara o trote era também um desleixo do Cosmos: era altinho, rechonchudo e mal-humorado. Aqueles dois ali, juntos, cutícula do outro, sugeriam gargalhadas colossais a nosso mundinho interiorano.
“Apêndice” tornou-se nosso jargão a tudo que nos é inconveniente, a tudo que desequilibra – ainda que minimamente – dos padrões. Carolina, Eduardo e Rodolfo batizaram um monte de acontecimento mundano de “Apêndice”.
E assim esse trio faz o tempo ser menos entediante... Com suas palhaçadas sem maldade, com o ato de enfiar a cabeça no banal e voltar de lá cheio de novidades.

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