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7 de maio de 2006

Orkut

A vida insiste na mesma. Cada um com suas hesitações, excitações, frustrações, alegrias, infelicidades inerentes e segurando firme isso tudo com os instrumentos de que dispõe. E estes são arcaicos, nada tecnológicos, nada eficazes. Demandam potência nos músculos do âmago. E, infelizmente: agüente quem conseguir, salve – se quem puder.
Um transeunte me habita os olhos e eu, por detrás dos vidros do carro, imagino – o com suas inquietudes – cutículas a persegui-lo. E ele não me é nada. Nunca me foi nada. Ele possui grandezas, idéias nobres, talentos especiais. Mas tudo isso fica nos bastidores do grande evento que é o dia-a-dia: uma emenda e tanto.
Penso – lhe a carência. A impermeabilidade à notoriedade. Todos demandamos um minuto de boa repercussão, de má repercussão ou da depurada repercussão simplesmente. Todos demandamos um entrelace com quem pousa, ainda que por míseros momentos, a nossa volta.
Os talentos de escritores, oradores, desenhistas, vendedores, motoristas, dentistas, médicos, advogados,,, ,,, ,,, Não encontram pleno reconhecimento na própria alma. A alma se estende de satisfação quando se tem consciência das habilidades que cada um detém, mas a alma, tão necessitada de mais e mais de não sei o quê, precisa de outras almas espontâneas a reconhecê-la. Um vernissage é o cume da ausência de auto-suficiência. O propósito é que vejam e que se encantem com o bônus de habilidades que aparentemente difere uma pessoa da outra.
Estampar-se, escancarar-se alivia a solidão de ter todo um repertório ajeitado e cedido pelo Cosmos enclausurado numa única razão. Exibir-se é a forma de se viver sob o regime semi-aberto.

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