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24 de maio de 2006

Sofia

Parece que os pais previram a tendência que aquele objeto vital seguiria. Batizaram-na de Sofia – letreiro que faz jus à sabedoria, à cultura, à erudição, à esperteza. Sofia foi sendo desenvolvida de acordo com a coreografia do Fatal. Foi tornando-se cupim de livros que lhe mexiam o ego. Era demasiadamente egocêntrica. Escondia-se na indumentária natural que lhe fora cedida. Vivia sob as mãos da clausura.
Festas, eventos sociais, mutirão de gentes opinando sobre qualquer coisa, parques plenos de artesanatos dinâmicos perante faixas etárias diferentes a repeliam. Ela se entrosava perfeitamente com as oportunidades que emanavam da solidão.
Malgrado seus vinte e dois anos, ainda não havia beijado uma boca sequer. Não a sou para dizer: “é falta de vontade”; “é timidez”; “é frigidez”. Sofia é uma metonímia do Mundo: dissimula uma gigante verdade. Não sei de sua inclinação sexual. Nunca a vi pretensiosa, apelando a ferramentas que emperiquitam a fêmea no momento em que esta cobiça um macho.
Vive aos cantos – com seus espessos cabelos negros e lisos e em grande quantidade. Perscruta a Vida usando do mesmo semblante para fazê-lo. Não se sabe quando está feliz, triste, insípida, plena. Cobre-se com vestimentas sem notoriedade. É uma estampa opaca e clichê... Embora carregue uma desmedida vida interiorana. Pesa-lhe esta.
É praticamente impermeável às oferendas dos seres humanos. Prefere prender-se à aura de cercas elétricas que criou a abrir as próprias janelas a aragens estrangeiras.

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