Não há crimes hediondos, não há incestos, não há desrespeitos, não há desalmados, não há comportamentos que me choquem mais do que a ação que culmina na existência de qualquer coisa: seja animada ou inanimada, perceptível ou imperceptível, perecível ou imperecível, nítida a olhos orgânicos ou cega a olhos orgânicos.
Estava frente a frente à televisão vendo um Universo Paralelo. Sim. Um legítimo Universo Paralelo. A vida no Mar. Neste gigante pretensioso de mãos nunca vistas. Degusta-se, goza-lhe as boas sensações, mas não se sabe sua doninha. Às vezes penso que o dono do Mundo corresponde a um estereótipo de um sem nome que dinamiza a casa humana em prol da sobrevivência.
Ser mar é possuir, involuntariamente, uma soberba. Porque Ele detém inquilinos e mais inquilinos e caso falte a eles o fôlego dos mares, não lhes há outra residência na qual se possa sobreviver. O Mar é monárquico. Seus submissos sugerem liberdade, plenitude, mas são censurados e limitados pelas porções de água e de sal que compõem o condomínio deles. Verdadeiro síndico inconveniente de prédio.
Viver é enclausurar-se na própria cutícula e enclausurar-se nas oferendas de que não se sabe do Planeta. Peixes. A tônica do corpo é um, ainda que curto, enorme deslize. Vencer os protestos da água é magia gringa. Peixes. Chocantes feito os olhos vencidos por peles caídas de gente sabotada pelo Tempo, por esta abstração sócia da Potência do Mar.
Mar, danças, fantoches de não sei o quê, despropósito (meu verbete predileto). Antes do ponto final de cada devaneio fragmentado, aparece ele, intruso a concluir minhas transcendências. Despropósito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário