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22 de maio de 2006

Berçário

A seta do fatal poderia me emperiquitar como noz. Eu viveria à mercê de bocas requintadas no continente europeu. Seria chique ser noz. Talvez servisse de pretexto para cartões postais que levam vida de nômade. Circulam o Mundo em uma grande empolgação. E sem preços... Por investimentos de mãos desconhecidas.
A Vida poderia eleger-me tantas modas; afinal, o Mundo é um banquete colossal de belezas, feiúras, tristezas, felicidades súbitas. Quem sabe eu não fosse uma sensação fúnebre, de vida aguda e fugaz, que se manifesta em um parente distante de um defunto fresco. Ou uma única empreitada em um vendaval que rebola cabelos, roupas do varal, derruba lindos vasos cuidados por velhinhos depressivos e sem cobiças na vida.
A Vida foi-me justa. Investiu esta peça de jogos de continentes no Brasil que, malgrado ter sido batizado de país, detém o status de Mundo. Aqui tem excesso de purpurinas e confetes, etnias que se inauguram devido a envolvimentos entre cores e cores, gestos e gestos, gente do mesmo sexo. Sair a peregrinar pelas ruas do Brasil é a melhor alopatia antidepressiva. O Brasil me comove com suas carências, me revolta com certas desregras, me emociona com os mahatmas que se incorporaram aqui. Nestes terrenos versáteis, de semblantes distintos e belos.
Brasil, é em Você que meus pés flutuam, que esparramo minhas tristezas e você as engole sem revides. É de você que fisgo minhas felicidades, ainda que raras, possantes; transcendentes. Brasil... Saio e o vejo flexionado em preto, bem preto; branco, bem branco; gringo preferindo dar as próprias marchas aqui. Vira-latas esperançosos. Vejo muito sofrimento em você, meu Berço. Vejo martírio estendido em corpo de mendigos que não sucumbem por conta das alquimias que fizeram com o álcool.
Você, Brasil, causa-me cólicas... Alopatias à alma são ineficazes. Fico com ecos e ecos de dores de alma. Mas a sua tônica está na arcada escancarada e incessante dos entregadores de pizza, dos correios, dos caixas de supermercado, dos lixeiros, dos professores. Há sempre, claro, aqueles encostos materializados... Que não nos aludem a lugar algum. Se nascessem na Europa ou na África seriam a idêntica e cansativa insipidez.
Brasil, adoro suas caras e bocas e gestos e gingas e seus domingos e suas ruas com baforadas lúdicas.

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