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27 de maio de 2006

A você, isento da burocracia de nome e de sobrenome

O nome é burocracia de nascença. O nome que se escolhe é um sobretudo, desnecessário aos verões brasileiros. A carne viva é única, incomparável, tem suas próprias peculiaridades que dispensam batismos, porque são óbvias a olhos lúcidos.
Nome? Para quê? Para dificultar ainda mais o novelo macio que se pode formar a partir das coincidências humanas? A estética singular de cada condição humana é mais potente que um tênue papel de R.G..
É a você – negrinho meigo, já meio seqüelado pelos martelos do Fatal – que dedico esta prosa.
...
Nunca o havia visto. São tantas vitrines de vida com que cruzo... Todos os dias alguém – a quem, geralmente, dou um codinome – penetra-me. Às vezes, essa novidade permanece a temporada de um paliativo em nossas veias; outras vezes, no entanto, como um sério tratamento alopata, certas caras e bocas e gestos e o resto impregnam-se em meu sentimentalismo. A ornamentação deste já alcança o esboço do exagero. Mas, nada posso fazer em prol de uma faxina estética, porque o sentimento é-me outorgado.
Fiquei a perscrutá-lo ali, do lado de fora do pub, sem referências, tendo como único patrimônio unicamente a sua vida. Sua moeda é rejeitada pela nossa moeda. Portanto: o bar é impermeável a você. Mas, isso não o impediu de dançar e de sorrir sem o empenho dos dentes na íntegra. Você beliscava o som possante que emanava do lado de dentro da boate e se satisfazia com as balbuciadas sonoras. Degustava restos de claves de sol e os transferia à flexibilidade – já censurada pelo Tempo.
Seu semáforo sugeriu-me plenitude... Correta entrega ao despropósito da Vida. Deu-me vontade de abraçá-lo, oh! Criatura suave feito epidermes de bebezinhos. Deu-me vontade de abraçar Você.

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