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27 de maio de 2006

Síndrome da mendicância?

No sinal. Desempenhando o status de transeunte. Maltrapilho pelos cantos. A carne viva estendida em chão morto, frio. Etíopes brasileiros. Semblantes insistentes: há sempre, a encobrir o rosto dos sem teto, uma aura de profundo dessentido.
Àqueles que vivem sob a bússola da civilização a vida já pesa. Casas, “estátuas e cofres e paredes pintadas” são cadáveres que ganham animação das mãos dos bichos humanos. Mas essa parafernália não os sacia, não os preenche em se tratando das carências do cerne. Apenas lhes lustra a vaidade – esta, fugaz feito o segundo que já se cimentou em pretérito.
Os indivíduos que têm como patrimônio exclusivamente o corpo ficam à mercê das intempéries da Natureza: e os anticorpos ao frio? À chuva? Ao excessivo calor do Calor do Brasil? Os moradores de rua são a palavra “mártir” possante, em quinta marcha. Não sucumbem às rebeldias do Cosmos, porque desenvolveram força de pilastra que sustenta residências.
Os mendigos creditam fé em cada pedido feito a um desconhecido qualquer. A única religião, a única dieta de sobrevivência deles é a incansável tentativa de sobrevivência. Para isto, contam integralmente com a filantropia alheia.
A seta do fatal parece que os condicionou (os mendigos) a uma estática sensação de derrota; parece que lhes mutilou a alma e os alienou das propostas de se reerguerem.
Grande parte da sociedade analisa-os quanto à carne fria, crua. Não perscruta o contexto em que esses objetos vitais vivem. Por isso, tantas vezes, despreza-os e não lhes cede um sorriso; um gesto sequer.
A esmola é um ato altruísta que promove um bem bilateral: quem a recebe fica em dia com a vida e quem a doa sente-se pleno; útil. E dar esmolas não se restringe a mega - doações terceirizadas; o tesouro de ajudar alguém se fixa no face a face, na troca de auxílios, afetos e pi-e-da-de.

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