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24 de junho de 2006

Bolo

Júlia competiu com o fôlego daquela sexta-feira inconveniente. Empecilho de provas chatas a partir de matérias teóricas. Júlia tem integral ojeriza a teorias, a didáticas, a lógicas. Júlia vive porque lhe é outorgada essa infindável ação. Vive transcendendo a utopia dos céus.
Incrementa o vital com o incogitável. E ri plena perante o Mundo elaborado de criança que se atenta aos sentidos. Ri plena... O palhaço é real. A maturidade das óticas inorgânicas é de verde intenso, brilhante, vigoroso.
Os compromissos lhe atropelam o dia. Retocar o corte de cabelo. Como de praxe, pintar as unhas e lanchar a tempo de chegar em bom horário à prova. Toma chá de camomila, esquenta um pão e o arremata com pasta de queijo... Todos desempenham incumbências de pedreiros na hora da fome. Todos desempenham os talentos dos confeiteiros quando se saliva um destino ainda não predestinado.
Júlia fez a prova, voltou para casa a tempo de dar tempo ao telefonema. Ligou para o celular de Arnaldo; como detesta insistências, deu um tempo. Ligou novamente, chamou, chamou, chamou... À medida que a chamada era-lhe um eco, desnudou-se das expectativas. Ligou mais três vezes. Nada de atendê-la.
O dia passara preenchido, cansativo e a garota debruçou-se sobre a feliz expectativa da sedução primitiva e pudica da noite. Fez todos os afazeres com o grifo do bom sentimento. De repente, tudo o que o cigano havia predeterminado inverte-se. Não haverá encontro. Júlia frustra-se, como é legítimo no manual da Grande Proprietária da Vida.
Mas o bolo não terminará seco, mal acabado, insosso. A menina preparou-lhe uma linda cobertura... Cobertura de irritabilidade, frustração, desilusão, incipiente frieza e desprezo. E depois, apelando aos serviços do Sedex, mandará a obra arrematada para o doceiro despreparado.

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