Total de visualizações de página

13 de junho de 2006

Luftal

Margareth demandava um pudor praticamente outorgado. Não sei de onde nascem as convenções, e nem cobiço o embrião de padrões. Acho que parâmetros são grandes despropósitos que sugerem os trejeitos da Vida. Dessentido vital, ilogicidade artificial.
A senhora, senhora não; Margareth não se casou; teve apenas um filho e insiste despercebidamente em comportamentos púberes. Margareth acredita em seus amores utópicos, mutila-se perante um prego abstrato que lhe põem. Cinqüenta e quatro anos e ainda firme, verde na consistência dos dedos do materno. Parece-me que ela não se desprendeu dos galhos... É a suma carência; é a farmácia de, exclusivamente, anticorpos a qualquer emanação que não lhe agrade.
Margareth, ainda que sinalizada pelas vestes humanas, detém uma das peculiaridades dos felinos; dos gatos especificamente. Ela possui sete, setenta, sete vezes setenta vidas. Vive sobre o berço de alopatias. Talvez, a eficácia das suas cartelas de vidinhas inertes, embora possantes, equivalha ao efeito nocivo de doses exacerbadas, overdoses de cocaínas. A senhorita antecipa o futuro pensado pelos cientistas – os quais dizem que, num momento não tão distante, as pessoas viverão de cápsulas e não precisarão dos genocídios da Natureza.
Ela já condicionou a língua, o esôfago, os copos de água e o cerne à recepção das mortezinhas de efeitos bem vivos dos comprimidos – carnavalescos. Alguns respeitam as alegorias da paz e estão sempre de branco, outros são ousados, fúteis... Gostam de estar a par das modas. Das cores atingidas pelo Homem. Margareth toma muitos comprimidos como precaução a possíveis mazelas, como uma carência psicológica também. Mas, o pudor de que necessita para se expor em sociedade é sério. Sério feito a estampa de um empedernido jurista que entra num elevador pleno de sinônimos e sente-se deus... Deus que precisa de uma estética para dizer tudo que tem a dizer.
Margareth, perante a civilização, é contraída. Denotativamente contraída. Contrai-se temendo que a acústica odorífera de um pum a tenha como remetente e os arredores como destinatários. Pum. Um gesto outorgado foi traduzido como monstros. Monstruosa é a incessante contração de dona senhorita. Ela estabeleceu a hora exata de seu compromisso com o velho amigo e divã Luftal. Marcou de encontrá-lo sozinho. Daí, poderia ela – Margareth – soltar-se despudoradamente. Orquestra próspera. Orquestra autodidata; não houve ensaios aos sons, mas eles saem naturalmente. E os cheiros são metáforas, ainda que pejorativas, à vida dela.

Nenhum comentário: