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9 de junho de 2006

Xadrez

TRABALHO DE ESCOLA; DETESTO DIDÁTICAS E LAPIDAR CIRCUNSTÂNCIAS ORGÂNICAS, MAS ACHEI ESTE INTERESSANTE

Suzane Von Richthofen – segundo o escritor – comentarista – (...) Arnaldo Jabor – inverteu a obra Romeu e Julieta de Shakespeare, ao elaborar, junto ao namorado e ao cunhado, o crime hediondo (a pauladas) que matou seus pais. Isso em prol de uma linda promessa de amor com final feliz.
Ela tornou-se “grande-série” nos veículos de comunicação de massa, foi estampada em capas de revistas, foi pronunciada por diversas bocas de diversos repórteres, de diversos amadores, passou por processos ultra-modernos das máquinas digitais como tentativa de nos alienar do rostinho de boneca que ela possui e de nos induzir a imagens monstruosas a fim de ilustrar a aura da violência com a qual esteve envolvida.
Todas as ampolas de agressividade, revolta, protesto emanavam do bolo homogêneo em que se transformou a sociedade para transferi-la (Suzane) à condição de “a pior representante da espécie humana”. O banditismo que envolve a pele, ou seja, o bandido que ataca o corpo de uma pessoa de quem se cobiça algo é mais digno que aquele que mutila o cerne de um infrator. Suzane chegou ao cume da irracionalidade. Materializou um de seus instintos mais primitivos num ato chocante: na morte dos próprios pais.
A época do crime foi encoberta pela aragem de indignação. Todos os trejeitos, todas as explanações, todas as peregrinações das pessoas que se abstiveram de seus afazeres para “apedrejar” face a face a moça contaminaram a Nação; esta, à medida que assistia ao "Espetáculo Von Richthofen", transbordava-se de revolta. Quanta indignação, Mestre. Nem parece que estamos sob a mesma condição desse “monstrinho-Suzane”. Ela não parece condizer com a receita humana; ela assemelha-se à agudez de todo mal cósmico.
As pessoas vêem as notícias de violência, principalmente, de fora para dentro meramente. Não aproveitam o embalo do caos para vasculharem seus mundinhos interioranos:
-Espera aí! Quantas vezes eu tive vontade de espancar aquele namorado que me traiu? Quantas vezes eu estive à beira de matar um amigo falso, cuja fidelidade habitava terrenos de ficção? Talvez, se a gente fosse devoto dos instintos...
A Humanidade é feita de mesmos conteúdos. Os instintos, os sentimentos, a composição orgânica enfim são comuns à vida humana. É claro que existem indivíduos com bônus de maldade ou bônus de qualquer mazela que seja.
Suzane, provavelmente, privou-se da íntegra razão ao elaborar e realizar o assassinato dos pais. Ela diz-se arrependida.
A maior penitência da garota não é o xadrez, não são os xingamentos de remetentes desconhecidos berrados a ela, não são as algemas, não é a humilhação de mostrar a cara e a mala de derrota à sociedade brasileira. A grande clausura da menina vem de seu próprio inconsciente. Existem almas aleijadas, etíopes, anêmicas, mas “desalmados” não receberiam o status de ser humano. Falta-lhe fôlego; sobra-lhe sofrimento. A morte ser-lhe-ia um prêmio; ser-lhe-ia a metamorfose da borboleta apta a voar.
Acho um enorme despropósito a mídia ficar em vigília de Suzane. Já foi esclarecido ao povo o fato. Parece que querem acumular audiências e conseqüentemente lucros em cima desse filme sangrento de terror. Que os juristas decidam – com portas fechadas – a punição necessária à moça. E que nós guiemos nossos itinerários como caracóis que se voltam para dentro de si. Que sejamos os fiscais das nossas próprias vidas – tão perturbadas pelas baforadas do bem e do mal.
O impresso, a TV, a rádio, a internet têm compromisso em informar o espectador dos acontecimentos. Compromisso é coisa séria. Há espaços exclusivos às novelas.

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