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23 de junho de 2006

Caracol

Da boca pra fora. Minha maior pretensão. Como os decalques das projeções do humano me fazem transbordar de inveja. Tenho inveja de quem se emperiquita às segundas-feiras; tenho inveja de quem salta perante um televisor com um número maior de polegadas; tenho inveja de quem fica tranqüilo no domingo, principalmente quando se é criança.
Minha língua copula minha goela. Ventos que meu aparelho bucal importa e estende ao âmago dão-lhe (a este) um calafrio irremediável. Desconforto. A vida vitimada pela Vida. Banditismo involuntário. Não há xadrez ao frio que mata... A tudo aquilo que mutila a alma. A vítima é que fica em penitência de segurança máxima, enclausurada nos ferimentos que jorram sangue e secam... Mas, de repente, esbarram-nos em uma superfície qualquer por um descuido qualquer e o sangue retorna à mangueira possante.
Mutilam a alma. E riem. Como se a gente dominasse nossos instintos. Parece que somente as crianças seguem as setas do instinto instantâneo. Os adultos tendem à canastrice. Abstêm-se das próprias vidas em prol de um espelho. Adultos são a imagem do real, embora não o sejam.
É tudo ficção mesmo. Mas a criança é devota das mentiras, dos desentendidos, a criança faz jus à vida, à miscelânea. À medida que se cresce e que os semáforos vão sendo fincados pelas mãos de outrem, inicia-se a morte da vida. Abdicam-se da vida em prol do que o maestro ensina. O maestro é da mesma estirpe... Ele não tem didáticas. Ele não sabe de nada. Apenas batiza coisas.
Que retorne a devoção a ficções. Credito fé nessa ressurreição. Serei mais feliz... Seremos mais serenos... Empertigados morrerão de falta de ar... Imponência sucumbirá. Ruínas aos estetas. Ficção.

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