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22 de junho de 2006

Copa do Mundo de 2006

Viviane é frígida a partidas de futebol. Respeita, verdadeiramente, sem esforços, o amontoado de bichos humanos que se aconchegam à frente de um televisor para verem várias orquestras orgânicas em exímia execução.
Habilidades talentosíssimas que cobiçam a mesma presa. Codificação dos novos dias que ela fura; fura o tapete desenrolado do destino. E compromete-se – obrigatoriamente – com o novelo que não cede espaços a ninguém.
À medida que os enredos sociais se emolduravam, Viviane portava-se como trena. Preferia engolir a seco o ato cru que lhe regia a vida a projetá-lo em escapismos esportivos. Futebol. Alienação laboriosa. Corrida impensada feito a inércia do objeto vivo diante da Vida.
Embora o futebol não a incomodasse, a epidemia desse esporte, no entanto, alterava-lhe a eletricidade. Sobrecarga às tarefas dos nervos. Haja nervo.
Todos os veículos de comunicação soletram a mesma redação, com a mesma entonação, com uma ginga que se agarra em uma parte da partitura. E trava as mãos naquela dificuldade face a face à Viviane. Medo fatal perante uma fera. Íntegro tédio.
O ódio, que raras vezes era o semáforo verde da mulher, estava em pane. Era agora insistentemente verde. Verde porque havia berros, verde porque havia fogos a estourar sem falta de ar, verde porque cheiros inoportunos de churrasco eram importados pela flexibilidade dos ventos. Tudo isso para ovacionar a fúria de corpos em momentos exclusivamente atentos, orgânicos que promovem efeitos também orgânicos na vastidão de torcedores.
Copa irrita. Deprime Viviane. Ela queria adquirir felicidade súbita nessa grande movimentação que Imobiliza o Mundo.
Que acabe logo essa arcada escancarada de uma dentadura furreca.

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