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5 de junho de 2006

Saudades (vigésima vez)

Patologia nos rios, no grande mar. Saudade é intransferível aos castelos humanos de que se dispõe o Globo. A saudade atinge o cume de meus esforços para se esparramar, através de minhas mãos, à folha virgem de um papel áspero, liso, rascunho...
Muita potência voluntária... Força de parto. E a saudade de não sei o quê não me sai. A saudade me enclausura a tal ponto de polícias me transferirem ao xadrez de segurança maciça, onde só tenho acesso a feixes de cinco centímetros de luz. Xadrez. Todos estamos abaixo das condições subumanas a que estão submetidos os possantes bandidos. Viver é preto e branco, são as grades resistentes dos presídios concentradas em cada objeto vital, viver é penitência. Este é meu único e insistente lamento. Quanto lamento. Quanto pessimismo. Mas sou induzida por uma cocaína qualquer de endereço sem registros.
Saudades do que eu provavelmente era... Saudades dos tempos de inconsciência... Saudades de um futuro por que aspiro. Em que me trajo de borboleta... Borboleta sem instintos reconhecíveis. Borboleta livre... Livre de corpo, das vaidades dos pincéis do Terreno. Quero o vôo, a íntegra dessabedoria do vôo. Porque passos em solos formais são pontiagudos e a sola dos meus pés é tênue, não suporta pregos espessos.
Saudades de não sei quem. Existe-me uma vasta carência. Nenhuma idolatria que emana de fora para dentro a sacia. A carência é vastíssima. A carência é tatuagem de nascença. Não sei como me abster definitivamente disso... Dessa persistência em erros. Paliativos não me faltam. Mas a cura, a tão cobiçada cura não se esboça sequer. Preciso da cura... Ainda que seja sangrento, ainda que haja estiletes deslizando sobre a epiderme mais sensível do cerne, demando a cura. Não me importo com o processo. Não me importo com a ampulheta que culminará em extirpação do tumor de carência, que se proliferou muito rapidamente.
Tornar-me-ei devota de qualquer entidade, se for preciso. Só não quero é viver à margem de um rio que me engole com sua composição de lamentações e carências.
Rio vermelho... Vermelho denotativo. Não agüento.

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