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18 de junho de 2006

SolidÃO

Betânia crê na solidão dona de si. A mocinha, 19 anos, norteada pela aragem das pegadas modistas da sociedade, ainda não se sentou para pensar; não simplesmente pensar, mas sentir o quão hediondo é o ato fugitivo de se viver.
Ela é belíssima, vive sob confortos exagerados que acabam por culminar em luxo, sai deslizando em asfaltos, desvirginando terrenos a paquerar e ser paquerada. Ama a direção. Sente-se poderosa. Íntegro instinto se proclamando.
Somos muito amigas, apesar de nossas semelhanças serem a proximidade das Américas com a Ásia. Vira e mexe Betânia bate campainha e os olhos da garota denotam uma carência de papo, de mostruário de sentimentozinhos. Eu adoro. Nossos novelos se entrosam facilmente. Ao fim, uma linda peça estilo mocinha nostálgica fica pronta.
Pensávamos – eu, Lívia e ela, Betânia – que a solidão era o diagrama que continha as mazelas dos nossos corpos e das nossas almas. Eu tropecei em uma enorme rocha, sangrei, fiquei plena de dor e pensei na condição de bebê aconchegado em braços firmes, sem R.G., embora sempre presentes.
Betânia ainda se culpa pelos próprios desleixos. Não tateou a própria escravidão. Ser escravo é válido quando se tende a se culpar por algum ato indigno. Quando se é monitorado, a culpa cabe às mãos do manipulador. Ser escravo é péssimo, em se tratando do xadrez sem uma nesga de luz onde somos submetidos a viver.
Que a Humanidade descobrisse a vassalagem. A alforria é somente a morte, creio. Que a morte seja integral inconsciência... Mas, enquanto se vive, inevitavelmente, fica-se à mercê da Rosa-dos-ventos do tão antigo Tempo.
Em sua mais recente visita, minha querida prima e amiga e amor trouxe-me um saco com um monte de roupas lindas. Ela veste-se muitíssimo bem. E eu adoro receber objetos que já foram revestidos por auras de pessoas de que gosto. Comprar uma roupa nova é agradável... Mas bate-me uma sensação de levar o Instituto Médico Legal para casa. Um mortinho, por um motivo qualquer, pousou em uma loja... E agora ele ressuscita com meu fraco fôlego de salva-vida. A roupa usada já fora revivida por outras habilidades. Uma adoção. Uma filantropia que mexe com as poças do meu bem-estar. Meu altruísmo é um egoísmo que saliva minha insipidez.

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